terça-feira, 21 de setembro de 2010

Seleção Natural ...

O nosso relacionamento era perfeito!Mais perfeito que aqueles que apareciam nos mais famosos romances hollywoodianos. Amávamos-nos, e embora por mais clichê que pareça, tudo nos levava para o final feliz. Eu tinha a certeza absoluta de que ele era o homem da minha vida. Logo nos casaríamos e teríamos aquela vida que todo casal sonha ter, casa, trabalho, filhos, animais de estimação, passeios no parque, fim de semana na praia, enfim, tudo o que os verdadeiros amores proporcionam.

Para além do amor verdadeiro, nos desejávamos e muito! Já tinham se passando os anos, mas o nosso relacionamento, de tão perfeito, não havia esfriado. O desejo era o mesmo dos primeiros anos e arrisco-me a dizer que talvez fossem até mais intensos. Os anos não haviam passado para o nosso desejo, o passar do tempo só melhorou nossas experiências e a nossa cumplicidade.

O fato de não nos vermos todos os dias aumentava ainda mais a intensidade desse amor, a saudade era peça fundamental deste relacionamento. Sempre que nos víamos nos dias marcados eram sensações maravilhosas, melhores eram as frenéticas e quentes sensações dos dias em que a gente podia fugir, esquecer de todas as obrigações do cotidiano. O proibido sempre nos satisfazia mais.

Todo esse conjunto, o pacote do amor verdadeiro e perfeito, superavam as nossas diferenças, eram muitas, mas havíamos superados, elas viviam em perfeita harmonia. O fato de eu ser Rock’in roll e ele Bossa nova não nos atrapalhava. Juntos tínhamos aprendido a ter gostos em comum (mesmo que de forma forçada) , apesar de alguns nunca terem sido superados, como por exemplo, eu jamais o perdoei por gostar dos sertanejos que eram características que marcavam as origens da família dele, nem ele aceitava o fato de eu gostar de sair pra beber com os amigos e discutir sobre futebol.

Com as diferenças devidamente superadas. Pode-se até cometer a heresia de afirmar que eu era a companheira perfeita. Sem muitos ciúmes, sem cobranças, nem frescuras ou quaisquer outros tipos de faniquitos comumente presenciáveis na maioria das mulheres. O estilo mulherzinha de ser não me pertencia, não me pertence até hoje, talvez esse tenha sido o meu grande erro. Não que eu fosse descuidada, pelo contrário, eu sabia ser muito feminina, eu era mulher apenas nas horas em que mais me interessavam e que interessavam, principalmente, ele. As vezes me sentia até como um brinquedo, e eu gostava disso, mas sentia que era um brinquedo um tanto quanto complicado, aquele cubo mágico, colorido e enigmático, que chega até divertir, mas que irrita quando se demora tanto tempo pra desvendar, muito mais quando nem se consegue o tal feito.

Homens talvez não gostem de decifrar enigmas, não sei se pode generalizar, então digamos que ele não era do tipo de gostar de decifrar enigmas, tai o motivo pelo qual ele nunca me fazia companhia quando eu queria fazer palavras cruzadas ou jogar xadrez, e eu nem percebi isso a tempo. Talvez eu tenha sido o grande enigma da vida dele, o cubo mágico que fez ele se irritar por não saber decifrar. Ai perdeu a graça. Perdeu-se!Perdi!

Ele não entendia, porquê eu tinha tantos amigos homens, porquê gostava de conversar sobre coisas que geralmente só homens conversam. Eu queria tê-lo pra sempre, mas não o queria da forma convencional, não sonhava em casar na igreja, com véu, grinalda e pompas, isso são convenções que a sociedade impõe. Amor de verdade não é contrato, não precisa de testemunhas, precisa apenas de cumplicidade. Então, nada dessas convenções me enchiam os olhos. Filhos eu também queria, mas não os queria criados dentro de um padrão hipócrita de educação. Não queria que meus filhos pensassem que vieram ao mundo trazidos pela cegonha e que todo Natal um velhinho gordo descia por uma chaminé pra trazer-lhes presentes, aliás, no mais, eu nem queria que tivesse chaminé na minha casa.

Contudo, desde que o mundo é mundo e Darwin descobriu que a seleção natural existe e impera, machos e fêmeas unem-se unicamente com o propósito da procriação, manutenção da espécie. Com o ser humano não é diferente apesar da teoria de Darwin ser camuflada com o discurso da racionalidade e erroneamente adaptada para a espécie humana. Homens e mulheres são iguais aos outros animais. Mulheres querem proteção, por isso sempre escolhem os mais fortes para que a cria seja perfeita e assim se cumpra o objetivo da natureza. Homens procuram sempre aquelas que sejam capazes de proteger e assim consiga manter a prole. Pois é, eu não era uma fêmea capaz de cumprir tais exigências.

Eu não gosto de regras, exigências, formalidades! Tudo isso fez eu perder o meu perfeito e verdadeiro amor! Ele não conseguiu decifrar o enigma e tão pouco me enquadrou nos padrões sociais convencionais. E como em toda boa fêmea da minha espécie a teimosia é inata ao meu ser, por isso não aceitei mudanças, não quis me adequar ao padrão da natureza. E assim, acabou!Perdi. Não sobrevivi à teimosia. Só as fêmeas mais fortes sobrevivem!

Estava só pensando ... se eu tivesse cedido um pouco mais e ele pressionado menos. Teríamos tido o The End perfeito dos romances Hollywoodianos e teríamos, assim, cumprido com nosso papel na natureza. Mas deixa pra próxima. Agora já sei!

2 comentários:

  1. Curioso... Profundo, um tanto equivocado em alguns pensamentos, mas, muito bem elaborado no seu conjunto, seguindo a mesma lógica.

    =***

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  2. Querida Dona Horta; que texto! Fim de relacionamento x darwinismo!
    Posso dar um texto bíblico? (sorrio)
    "Seja bendito o teu manancial, e alegra-te com a mulher da tua mocidade, corsa de amores e gazela graciosa. Saciem-te os seus seios em todo o tempo; e embriaga-te sempre com as suas carícias." (Provérbios 5:18-19)

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